“Certa vez ocorreu um incêndio em um bosque onde se encontravam alguns porcos que foram assados pelo fogo. Os homens, acostumados a comer carne crua, experimentaram e acharam deliciosos.
Logo, toda vez que queriam comer porcos assados, incendiavam um bosque. Até que descobriram um novo método.
Mas o que eu quero contar é o que aconteceu quando tentaram mudar o sistema para implantar um novo.
Fazia tempo que algumas coisas não iam bem: às vazes os animais ficavam queimados ou parcialmente crus; outras de tal maneira queimados que era impossível comê-los.
Como era um procedimento montado em grande escala, preocupava muito a todos, porque se o sistema falhava, as perdas ocasionadas eram igualmente grandes.
Realizaram congressos, seminários, jornadas, conferências para encontrar a solução, mas no ano seguinte o mecanismo continuava falho.
As causas do fracasso do sistema, segundo os especialistas, eram atribuídas ou à indisciplina dos porcos que não ficavam onde deviam, ou à inconstante natureza do fogo difícil de controlar, ou às árvores excessivamente verdes, ou à umidade da terra, ou ao serviço de informações meteorológicas que não acertava o lugar, o momento e a quantidade de chuvas.
O problema não era solucionado e a discussão crescia. Já havia milhões de pessoas trabalhando na preparação dos bosques que logo teriam de ser incendiados.
Havia especialistas na Europa e nos EUA estudando a importação de melhores sementes que dariam as melhores madeiras e pesquisadores de idéias operacionais (por exemplo, como fazer buracos para que neles caíssem os porcos).
Um dia, um incendiador de bosques chamado João Senso Comum falou que o problema era muito fácil de resolver: matava-se, cortava-se e limpava-se adequadamente o porco escolhido.
Ele era, então, colocado em uma grade metálica sobre brasas, até que o efeito do calor e não das chamas o assasse ao ponto.
O diretor-geral de Assamento mandou chamá-lo e disse-lhe:
_ O que o senhor fala é bonito, mas apenas na teoria. O que faremos com o s acendedores das diversas especialidades?
E os doutores em sementes e em madeiras?
E os indivíduos que foram ao exterior para se especializar durante anos à custa do país?
Vou colocá-los para limpar porquinhos?
O que faço com os bosques já preparados para as queimadas, cujas as árvores não produzem fruto, cuja falta de folhas faz com que não prestem para dar sombra?
O que faço com a comissão redatora de programas assados, com os departamentos de classificação de seleção de porcos?
São para estes problemas que o senhor tem que trazer a solução! Ao senhor, falta-lhe sensatez, Seu Senso Comum.
João Senso Comum saiu sem se despedir, assustado e atordoado, e ninguém nunca mais o viu. É por isso que nas tarefas de reforma e melhoria de algum sistema, geralmente falta o Senso Comum.
(Forcade Cirigliano)