Sempre quis ter um Relógio Cuco.
Daqueles com passarinho que de hora em hora aparece e entoa suas profundas reflexões sobre a vida.
Saí e comprei um para a minha esposa. Considerei que, como ela em geral não gosta muito dos presentes de Natal que lhe dou, e como sou sempre eu quem – no final, acaba ficando com eles, o mais aconselhável seria, daquela vez, escolher logo um presente que me agradasse; assim, depois da festa, teríamos em casa pelo menos uma pessoa sinceramente agradecida.
Depois de muito procurar, acabei encontrando um modelo mais “econômico” e considero que fiz um “grande negócio”!
No fundo da caixa da embalagem, havia dois papelinhos que diziam: ” Made in South Korea”, dizia um, e “O interior deve ser montado”, dizia o outro.
De dentro da embalagem de meu cuco, tirei cinco sacos plásticos de cacos – o chamado “interior” a ser montado.
Modéstia à parte, montei o “interior” sem que sobrassem peças e pendurei o relógio na parede. Perfeito! Era a primeira vez em toda minha vida que conseguia dar conta de uma tarefa tão complexa!
Chegou a hora. A portinha se abriu. O passarinho não saiu.
cucoObservei o “interior” do cuco e, com o auxílio de um furador de gelo e de um pauzinho de restaurante chinês, consegui soltar o cuco, que havia se estrangulado com uma mola. Devo ser o único homem do planeta que teve coragem de matar um passarinho de relógio.
E já podia ouvir o diálogo, na noite de Natal:
– É para você querida, um Relógio Cuco. O cuco morreu!
Pois foi exatamente o que aconteceu. Contei-lhe toda a história e ela riu muito. E até guardou o presente, com o cuco morto e tudo, por um bom tempo. E durante os Natais, quando nos reunimos com os amigos, essa história é relembrada e todos riem. Minha mulher olha para mim e pisca e eu olho para ela e pisco.
É, continuo sem o Relógio Cuco, mas para sempre ficou a lembrança de que o verdadeiro cuco da história, não era aquela engrenagem emperrada que havia dentro do relógio. Mas sim, a tal mensagem que vinha colada no fundo da embalagem. Aquela que avisava: “O interior deve ser montado”.
Esta mensagem, é para que não esqueçamos que precisamos constantemente “montar” o que há de melhor em nós, e encontrar o nosso lugar, no quebra-cabeça das nossas relações pessoais e profissionais, onde o todo é muito mais do que a soma das partes.
( Robert Fulghum)